Vivenciar os ensinamentos de Jesus
Não basta, ao agente da Pascom, saber todas estas coisas bonitas sobre Jesus Cristo, fazer discursos ou pregações sobre a comunicação ideal. O comunicador cristão busca se educar e se reeducar, cotidianamente, para vivenciar o modelo de comunicação revelado por Jesus Cristo.
Ele é chamado a VIVENCIAR os valores evangélicos da comunicação cristã, fazendo a experiência do diálogo, da tolerância, da escuta, do acolhimento, da comunicação positiva, sempre; comunicação que leva à solidariedade, a comportamentos justos, à partilha dos bens e dos dons, ao exercício da cidadania, à transformação pessoal e social.
Como podemos concretizar isto? Dentro das realidades das nossas comunidades, nos espaço e no tempo em que vivemos, nas circunstâncias e conjunturas que exigirão respostas e tomadas de atitudes de cada um de nós. Na Pastoral da Comunicação, estas atitudes são tomadas de forma individual (no cotidiano de cada agente) e de forma coletiva (nas ações que se realizam em equipe, de forma planejada).
Para viver a experiência da Comunicação Cristã, o agente da Pascom ou de outras pastorais, movimentos e serviços precisa tomar iniciativa, ter coragem de se abrir ao novo, de seguir o modelo ensinado por Jesus. Quando o relacionamento dentro de casa é marcado pela violência da não-escuta entre os seus membros, quando a agressão verbal e até física toma o lugar da conversa e do diálogo, a criança cresce pensando que aquilo tudo é normal. Aí reproduz estes desvios de comunicação nas suas relações com as outras pessoas da sociedade, até mesmo dentro da Igreja.
O processo de reeducação para a comunicação requer alguns exercícios; algumas tomadas de atitudes bem concretas em nossa vida. Eis alguns passos para trabalharmos a mística da comunicação cristã em nossos comportamentos diários.
a) Buscar o auto-conhecimento
O primeiro passo neste processo de reeducação para a comunicação humana e cristã passa por uma avaliação de si mesmo. Quem sou eu? Como sou? Como me percebo? Como me trato? Como me sinto em relação a mim mesmo? Quais são as minhas virtudes? Quais são as minhas fragilidades? Como eu reajo emocionalmente aos acontecimentos e aos outros? Como anda a minha auto-estima? Como é o meu lazer? E minha vida afetiva? Como me comunico/relaciono com as outras pessoas dentro de casa, na escola, na rua, na Igreja, através do rádio ou outros meios? Quem busca ter consciência de si mesmo, ama-se, preza-se. Assim, fica bem mais fácil de amar e prezar os outros, respeitando suas qualidades e limites humanos. Aceitar-se para aceitar: este é o caminho do crescimento espiritual do comunicador cristão.
b) Tomar a iniciativa de ir ao encontro dos outros
O agente da Pastoral da Comunicação toma a iniciativa e vai ao encontro do outro, com o objetivo de estabelecer comunicação e construir comunhão com ele. Nossa missão requer trabalho, vivacidade, boa esperteza e antenas ligadas. Dormir no ponto ou passar batido são termos que não devem fazer parte do nosso cotidiano. Agir, sempre, mas agir no tempo certo, com cautela, usando uma certa diplomacia para conquistar o coração e a amizade de cada pessoa. Quem vai com jeito ganha a adesão e a confiança dos outros. Esta confiança jamais deve ser traída ou abalada. Sem confiança fica difícil desenvolver qualquer trabalho em comunidade ou em equipe. A estrada que nos separa dos outros, às vezes, é muito longa. Nossa missão é encurtar este caminho e até eliminar distâncias, sem esperar que os outros comecem. Esperar que as outras pastorais nos chamem, nos enviem notícias é dormir no ponto.
c) Cultivar a alegria de viver e a positividade
O agente da Pascom cultiva a alegria e o ânimo. Como Jesus Cristo, ele é portador da Boa Novidade. Quem entra em contato com o comunicador cristão sai cheio de boas notícias que trazem esperança. Já tem gente demais anunciando desgraças e tristezas, enquanto as coisas boas e os motivos de alegria ficam esquecidos. Aqui não cabe a alegria falsa, inventada, alienada. Estamos falando da alegria verdadeira que brota do coração e se expressa em pessoas que têm os pés no chão da realidade. Pessoas que, mesmo vivendo no meio de uma sociedade como a nossa, anunciam que um mundo novo é possível, quando fazemos alguma coisa para transformá-lo, aqui e agora, hoje. Estamos falando da alegria de ser solidário, de se despojar para experimentar a caridade, de fazer o bem, de escutar quem não tem chance de se dizer no modelo de comunicação que predomina nesta sociedade excludente. Em tudo, mesmo nas situações mais frustrantes e dolorosas, podemos encontrar uma face positiva, um motivo de esperança e de ânimo. “Tudo posso naquele que me fortalece”, diz São Paulo (cf Fl 4, 13). É preciso aprender a ver, no mundo e na sociedade, não apenas as desgraças, mas, sobretudo, a esperança. É preciso aprender a ver as coisas positivas da vida, mesmo em meio às desgraças que o mundo canta e decanta. Viver a positividade da vida é preciso! Só assim podemos superar as coisas ruins e fazer vigorar as coisas boas!
d) Cultivar a paciência para ouvir os outros com o coração
A escuta requer abertura ao outro. Quem escuta, verdadeiramente, procura entender e acolher o que o seu interlocutor está querendo comunicar. Não é simular que está ouvindo, martirizando-se. O coração de quem escuta tem paciência verdadeira e doa-se para fazer o outro mais feliz. Quanto bem pode fazer uma escuta verdadeira! Quem é escutado se sente valorizado, amado, acolhido. O comunicador é, antes de tudo, escutador: realiza-se, também, na escuta. É assim que podemos convencer os outros a também escutarem os outros, nas suas respectivas pastorais, movimentos, serviços e no cotidiano de suas vidas. O agente da Pascom educa pelo testemunho da comunicação.
e) Ser democrático e dividir responsabilidades com os outros
Autoritarismo não combina com comunicação cristã. A arrogância bloqueia, cria barreiras, provoca ruídos e corta qualquer possibilidade de comunhão. Nosso objetivo é gerar comunidade, espaços de diálogo. O comunicador educa-se, dia após dia, para dividir responsabilidades e deixar que outros exerçam o direito de dar opinião, de participar das decisões, de expressar suas ideias, de exercer a sua cidadania também dentro da Igreja. A Igreja não é propriedade privada de ninguém. Não somos donos; somos, apenas, filhos do Dono. Todos temos iguais direitos de exercer o direito de ser Igreja, cada um com a sua especificidade: leigos, padres, bispos, diáconos, religiosos e religiosas. Devemos encarar nossas funções no trabalho pastoral da Igreja como serviço e não como poder de mando, tipo “eu mando e você faz”. “Deus não escolhe os capacitados; capacita os escolhidos”, diz uma frase de efeito. Quantos de nós não começamos a trabalhar na Igreja de forma tímida? A capacitação é conseqüência da nossa perseverança no trabalho. O tempo vai passando e vamos adquirindo saberes com a vivência pastoral, com a prática e nos momentos de estudos. Jesus Cristo confiou responsabilidades aos seus discípulos. Eles vestiram a camisa por causa desta confiança demonstrada por Jesus.
f) Falar e testemunhar com autoridade
O testemunho é o instrumento de trabalho mais eficaz do comunicador, dentro da comunidade. Ao viver os valores da comunicação cristã, o agente da Pastoral da Comunicação ganha credibilidade, confiança e amizade. É isso o que torna a equipe de Pascom uma referência para os outros agentes de pastoral, para as outras pastorais, setores da Igreja e outros segmentos da sociedade local. O comunicador cristão se capacita para desempenhar melhor a sua comunicação ao estabelecer contatos interpessoais, nos momentos de falar em público, com representantes de outras instituições e através dos meios de comunicação. Falar com segurança, expressando-se com qualidade, com convicção é o segredo de sua autoridade. Mais uma vez, aqui não cabe autoritarismo, arrogância e nem agressividade. Cabe, sim, a serenidade, a espontaneidade, a harmonia dos gestos e da fala, a sobriedade no jeito de falar e se comportar.
g) Cultivar o espírito comunicativo
Ser comunicador da Pastoral da Comunicação é um apostolado. Quem opta pelo projeto de comunicação de Jesus Cristo cultiva o ardor missionário e procura viver os valores deste projeto, em todas as ocasiões e em todos os ambientes. Somos chamados a viver esta experiência pastoral muito mais com atitudes do que com palavras. O que significa cultivar um espírito comunicativo? Significa estar disponível à escuta, ao encontro, à visita, aos contatos, à comunicação. Só alcança este tipo de comunicação quem cultiva a espiritualidade. Você deve estar perguntando: “Um comunicador assim não seria um super-homem? Um espécie de anjo?” É bom lembrar que somos humanos e temos nossas quedas, nossos dias de mau-humor, nossos limites. Por isso que é imprescindível conhecer esses limites para superá-los. Ser um comunicador cristão é uma luta diária para vencer aquilo que atrapalha a boa comunicação.
Em resumo, segundo as religiosas Joana Puntel e Heleza Corazza, no livro Pastoral da Comunicação – Diálogo entre fé e cultura, o agente da Pascom deve ter as seguintes características:
. Ser capaz de escuta e diálogo;
. Estar aberto(a) para aprender sempre;
. Ter presença, aliada à capacidade profissional e ao testemunho;
. Ter grande amor e paixão pela comunicação, capaz de vibrar pela missão;
. Saber interagir com a diversidade, nesta sociedade pluralista;
. Saber lidar com os pontos de vista diferentes no interno do próprio grupo e das pastorais;
. Ser criativo na busca de soluções.
Produzido por:
Cacilda Medeiros – da coordenação da Pastoral da Comunicação, na Arquidiocese de Natal/RN
Francisco Morais – colaborador da Pascom – Arquidiocese de Natal
Referências bibliográficas:
Documento 59, da CNBB – Igreja e Comunicação rumo ao Novo Milênio, 1997.
FOGOLARI, Élide Maria & BORGES, Rosane da Silva. Novas Fronteiras da Pastoral da Comunicação. São Paulo, Paulinas, 2009
PUNTEL, Joana & CORAZZA, Helena. Pastoral da Comunicação – Diálogo entre fé e cultural. São Paulo, Paulinas, 2007
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