segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Espiritualidade da Comunicação


A pergunta primeira, ao escrever sobre a espiritualidade da comunicação, é porque? Por que uma reflexão sobre a comunicação numa perspectiva mística e espiritual?
Nestes quase dez anos de Pastoral da Comunicação, mas mesmo anteriormente, quando comecei a me apaixonar pela comunicação na Igreja, pensei que o fazer comunicação só teria um sentido evangélico se nascesse de um ser comunicação, não meramente instrumental e pragmático, portanto.
E este é um perigo grande ao trabalhar com algo tão exigente, tão instantâneo, que demanda tanta atenção e esforço físico e mental. Quem trabalha com ela já sabe: comunicação é trabalho braçal. Longe da idéia de glamour e sofisticação que transparece do mito midiático, o que existe é suor, fruto do esforço. E não é diferente com a comunicação na Igreja. A cada dia um novo programa na rádio e TV, a cada semana ou mês um novo jornal ou revista, a cada instante uma nova postagem no site. E, quando concluímos uma etapa, tudo começa de novo e do zero. É o trabalho da cozinheira que, a cada manhã, trabalha tanto para ver o fruto do seu esforço consumido em minutos e, tantas vezes, criticado.
Instrumentalizar a comunicação é, de fato, um perigo gigantesco. Esta atitude levaria, inevitavelmente, a um fazer sem sentido, uma luta sem vitória, um esgotamento atrás do sucesso que, tantas e tantas vezes, não chega. Na lógica do mundo, todos os argumentos e atributos podem ser usados para alcançar este sucesso desejado. E alguma coisa sempre se consegue. Na dinâmica do Evangelho, não.
O Evangelho nos impõe uma postura que pode nos distanciar do sucesso, nos afastar da vitória fácil e preterir as nossas aspirações humanas de facilidade e portas largas. Mas, para compreender o Evangelho e entrar numa dinâmica da essência e não da aparência, do conteúdo e não da forma é preciso uma atitude que envolva o ser e, consequentemente, toque as profundezas da vida, determinando as escolhas e os horizontes.
Assim, o primeiro argumento para um espiritualidade da comunicação que não compreenda este serviço apenas como instrumento é o ser.
Ser comunicação deve ser a base do fazer. O cristianismo tem as suas bases no ser que gera o fazer. Lembro bem do, então, Padre Giancarlo Petrini, Reitor do Seminário Propedêutico Santa Teresa do Menino Jesus, onde fiz meu primeiro ano de formação, falando sobre a vocação sacerdotal que não podia ser alicerçada no fazer e, sim, no ser. Ele falava daquele padre recém ordenado que, voltando para a sua cidade natal depois da festa, sofre um acidente de carro e fica tetraplégico. Nunca mais fez nada. Mas nunca deixou de ser padre.
O ser tem raízes profundas, toca a existência, define a identidade, marca a totalidade da vida. O ser não muda ao sabor dos ventos e dos humores. O ser não cansa com o passar dos anos, não esmaece com a quantidade de horas de trabalho.
Quem faz, em algum momento pode deixar de fazer. Quem é, nunca deixa de ser. É verdade que a natureza humana, circunscrita pela fragilidade do pecado, tem o seu ser relativizado, passível de mudanças constantes e variações de interesses. No entanto, quanto mais a raiz do ser estiver fincada na profundidade da terra, mais ele se tornará imune aos ventos das mudanças.
*Padre Manoel de Oliveira Filho - Coordenador Arquidiocesano da PASCOM

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Formação Continuada

Vivenciar os ensinamentos de Jesus
Não basta, ao agente da Pascom, saber todas estas coisas bonitas sobre Jesus Cristo, fazer discursos ou pregações sobre a comunicação ideal. O comunicador cristão busca se educar e se reeducar, cotidianamente, para vivenciar o modelo de comunicação revelado por Jesus Cristo.
Ele é chamado a VIVENCIAR os valores evangélicos da comunicação cristã, fazendo a experiência do diálogo, da tolerância, da escuta, do acolhimento, da comunicação positiva, sempre; comunicação que leva à solidariedade, a comportamentos justos, à partilha dos bens e dos dons, ao exercício da cidadania, à transformação pessoal e social.
Como podemos concretizar isto? Dentro das realidades das nossas comunidades, nos espaço e no tempo em que vivemos, nas circunstâncias e conjunturas que exigirão respostas e tomadas de atitudes de cada um de nós. Na Pastoral da Comunicação, estas atitudes são tomadas de forma individual (no cotidiano de cada agente) e de forma coletiva (nas ações que se realizam em equipe, de forma planejada).
Para viver a experiência da Comunicação Cristã, o agente da Pascom ou de outras pastorais, movimentos e serviços precisa tomar iniciativa, ter coragem de se abrir ao novo, de seguir o modelo ensinado por Jesus. Quando o relacionamento dentro de casa é marcado pela violência da não-escuta entre os seus membros, quando a agressão verbal e até física toma o lugar da conversa e do diálogo, a criança cresce pensando que aquilo tudo é normal. Aí reproduz estes desvios de comunicação nas suas relações com as outras pessoas da sociedade, até mesmo dentro da Igreja.
O processo de reeducação para a comunicação requer alguns exercícios; algumas tomadas de atitudes bem concretas em nossa vida. Eis alguns passos para trabalharmos a mística da comunicação cristã em nossos comportamentos diários.
a) Buscar o auto-conhecimento
O primeiro passo neste processo de reeducação para a comunicação humana e cristã passa por uma avaliação de si mesmo. Quem sou eu? Como sou? Como me percebo? Como me trato? Como me sinto em relação a mim mesmo? Quais são as minhas virtudes? Quais são as minhas fragilidades? Como eu reajo emocionalmente aos acontecimentos e aos outros? Como anda a minha auto-estima? Como é o meu lazer? E minha vida afetiva? Como me comunico/relaciono com as outras pessoas dentro de casa, na escola, na rua, na Igreja, através do rádio ou outros meios? Quem busca ter consciência de si mesmo, ama-se, preza-se. Assim, fica bem mais fácil de amar e prezar os outros, respeitando suas qualidades e limites humanos. Aceitar-se para aceitar: este é o caminho do crescimento espiritual do comunicador cristão.
b) Tomar a iniciativa de ir ao encontro dos outros
O agente da Pastoral da Comunicação toma a iniciativa e vai ao encontro do outro, com o objetivo de estabelecer comunicação e construir comunhão com ele. Nossa missão requer trabalho, vivacidade, boa esperteza e antenas ligadas. Dormir no ponto ou passar batido são termos que não devem fazer parte do nosso cotidiano. Agir, sempre, mas agir no tempo certo, com cautela, usando uma certa diplomacia para conquistar o coração e a amizade de cada pessoa. Quem vai com jeito ganha a adesão e a confiança dos outros. Esta confiança jamais deve ser traída ou abalada. Sem confiança fica difícil desenvolver qualquer trabalho em comunidade ou em equipe. A estrada que nos separa dos outros, às vezes, é muito longa. Nossa missão é encurtar este caminho e até eliminar distâncias, sem esperar que os outros comecem. Esperar que as outras pastorais nos chamem, nos enviem notícias é dormir no ponto.
c) Cultivar a alegria de viver e a positividade
O agente da Pascom cultiva a alegria e o ânimo. Como Jesus Cristo, ele é portador da Boa Novidade. Quem entra em contato com o comunicador cristão sai cheio de boas notícias que trazem esperança. Já tem gente demais anunciando desgraças e tristezas, enquanto as coisas boas e os motivos de alegria ficam esquecidos. Aqui não cabe a alegria falsa, inventada, alienada. Estamos falando da alegria verdadeira que brota do coração e se expressa em pessoas que têm os pés no chão da realidade. Pessoas que, mesmo vivendo no meio de uma sociedade como a nossa, anunciam que um mundo novo é possível, quando fazemos alguma coisa para transformá-lo, aqui e agora, hoje. Estamos falando da alegria de ser solidário, de se despojar para experimentar a caridade, de fazer o bem, de escutar quem não tem chance de se dizer no modelo de comunicação que predomina nesta sociedade excludente. Em tudo, mesmo nas situações mais frustrantes e dolorosas, podemos encontrar uma face positiva, um motivo de esperança e de ânimo. “Tudo posso naquele que me fortalece”, diz São Paulo (cf Fl 4, 13). É preciso aprender a ver, no mundo e na sociedade, não apenas as desgraças, mas, sobretudo, a esperança. É preciso aprender a ver as coisas positivas da vida, mesmo em meio às desgraças que o mundo canta e decanta. Viver a positividade da vida é preciso! Só assim podemos superar as coisas ruins e fazer vigorar as coisas boas!
d) Cultivar a paciência para ouvir os outros com o coração
A escuta requer abertura ao outro. Quem escuta, verdadeiramente, procura entender e acolher o que o seu interlocutor está querendo comunicar. Não é simular que está ouvindo, martirizando-se. O coração de quem escuta tem paciência verdadeira e doa-se para fazer o outro mais feliz. Quanto bem pode fazer uma escuta verdadeira! Quem é escutado se sente valorizado, amado, acolhido. O comunicador é, antes de tudo, escutador: realiza-se, também, na escuta. É assim que podemos convencer os outros a também escutarem os outros, nas suas respectivas pastorais, movimentos, serviços e no cotidiano de suas vidas. O agente da Pascom educa pelo testemunho da comunicação.
e) Ser democrático e dividir responsabilidades com os outros
Autoritarismo não combina com comunicação cristã. A arrogância bloqueia, cria barreiras, provoca ruídos e corta qualquer possibilidade de comunhão. Nosso objetivo é gerar comunidade, espaços de diálogo. O comunicador educa-se, dia após dia, para dividir responsabilidades e deixar que outros exerçam o direito de dar opinião, de participar das decisões, de expressar suas ideias, de exercer a sua cidadania também dentro da Igreja. A Igreja não é propriedade privada de ninguém. Não somos donos; somos, apenas, filhos do Dono. Todos temos iguais direitos de exercer o direito de ser Igreja, cada um com a sua especificidade: leigos, padres, bispos, diáconos, religiosos e religiosas. Devemos encarar nossas funções no trabalho pastoral da Igreja como serviço e não como poder de mando, tipo “eu mando e você faz”. “Deus não escolhe os capacitados; capacita os escolhidos”, diz uma frase de efeito. Quantos de nós não começamos a trabalhar na Igreja de forma tímida? A capacitação é conseqüência da nossa perseverança no trabalho. O tempo vai passando e vamos adquirindo saberes com a vivência pastoral, com a prática e nos momentos de estudos. Jesus Cristo confiou responsabilidades aos seus discípulos. Eles vestiram a camisa por causa desta confiança demonstrada por Jesus.
f) Falar e testemunhar com autoridade
O testemunho é o instrumento de trabalho mais eficaz do comunicador, dentro da comunidade. Ao viver os valores da comunicação cristã, o agente da Pastoral da Comunicação ganha credibilidade, confiança e amizade. É isso o que torna a equipe de Pascom uma referência para os outros agentes de pastoral, para as outras pastorais, setores da Igreja e outros segmentos da sociedade local. O comunicador cristão se capacita para desempenhar melhor a sua comunicação ao estabelecer contatos interpessoais, nos momentos de falar em público, com representantes de outras instituições e através dos meios de comunicação. Falar com segurança, expressando-se com qualidade, com convicção é o segredo de sua autoridade. Mais uma vez, aqui não cabe autoritarismo, arrogância e nem agressividade. Cabe, sim, a serenidade, a espontaneidade, a harmonia dos gestos e da fala, a sobriedade no jeito de falar e se comportar.
g) Cultivar o espírito comunicativo
Ser comunicador da Pastoral da Comunicação é um apostolado. Quem opta pelo projeto de comunicação de Jesus Cristo cultiva o ardor missionário e procura viver os valores deste projeto, em todas as ocasiões e em todos os ambientes. Somos chamados a viver esta experiência pastoral muito mais com atitudes do que com palavras. O que significa cultivar um espírito comunicativo? Significa estar disponível à escuta, ao encontro, à visita, aos contatos, à comunicação. Só alcança este tipo de comunicação quem cultiva a espiritualidade. Você deve estar perguntando: “Um comunicador assim não seria um super-homem? Um espécie de anjo?” É bom lembrar que somos humanos e temos nossas quedas, nossos dias de mau-humor, nossos limites. Por isso que é imprescindível conhecer esses limites para superá-los. Ser um comunicador cristão é uma luta diária para vencer aquilo que atrapalha a boa comunicação.
Em resumo, segundo as religiosas Joana Puntel e Heleza Corazza, no livro Pastoral da Comunicação – Diálogo entre fé e cultura, o agente da Pascom deve ter as seguintes características:
. Ser capaz de escuta e diálogo;
. Estar aberto(a) para aprender sempre;
. Ter presença, aliada à capacidade profissional e ao testemunho;
. Ter grande amor e paixão pela comunicação, capaz de vibrar pela missão;
. Saber interagir com a diversidade, nesta sociedade pluralista;
. Saber lidar com os pontos de vista diferentes no interno do próprio grupo e das pastorais;
. Ser criativo na busca de soluções.
Produzido por:
Cacilda Medeiros – da coordenação da Pastoral da Comunicação, na Arquidiocese de Natal/RN
Francisco Morais – colaborador da Pascom – Arquidiocese de Natal
Referências bibliográficas:
Documento 59, da CNBB – Igreja e Comunicação rumo ao Novo Milênio, 1997.
FOGOLARI, Élide Maria & BORGES, Rosane da Silva. Novas Fronteiras da Pastoral da Comunicação. São Paulo, Paulinas, 2009
PUNTEL, Joana & CORAZZA, Helena. Pastoral da Comunicação – Diálogo entre fé e cultural. São Paulo, Paulinas, 2007

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Material do Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação

Nos dias 21 a 24 de julho, coordenadores e agentes da Pastoral da Comunicação do Brasil inteiro, estiveram reunidos em Aparecida para o 2º Encontro Nacional da Pascom. Foram dias de partilha e reflexão sobre a caminhada e os desafios dessa pastoral. A Arquidiocese de Salvador esteve representada pelo padre Manoel Filho, coordenador arquidiocesano da Pascom, Fernanda Santana e Patrícia Matos, jornalistas da Pascom e Camila, coordenadora da Pascom da Paróquia da Vitória. A CNBB já disponibilizou o material do que foi apresentado nestes dias, através do link:http://www.cnbb.org.br/site/component/docman/cat_view/361-2d-encontro-nacional-de-comunicacao Vale a pena baixar os arquivos e estudá-los com as equipes de Pascom Paroquial. O material é muito bom. Acesse!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Formação Continuada

Este blog tem com um dos seus objetivos a promoção da formação dos agentes da Pastoral da Comunicação. Queremos dialogar com você sobre os vários aspectos dessa pastoral, proporcionando o nosso crescimento mútuo. Convidamos cada agente espalhado por nossa Arquidiocese a participar dessa ciranda da comunicação. Mande sua sugestão, dúvida ou crítica. Comente os nossos textos!

Perfil do Agente da Pastoral da Comunicação


Quando se
vai constituir uma equipe de Pastoral da Comunicação, a primeira preocupação é: quem pode atuar nesta pastoral? Qual é o perfil do agente da Pascom? Será que é uma pastoral que pode ser formada apenas por jornalistas, publicitários, radialistas, especialistas em marketing e relações públicas?


Claro que é muito bom quando profissionais da área da Comunicação Social se engajam na Pascom. Mas, para ser agente da Pascom, basta gostar da “boa comunicação”, ter interesse em conhecer o pensamento da Igreja sobre o assunto, aprender mais sobre o uso das técnicas das novas tecnologias... enfim, ser um apaixonado por este mundo da “Comunicação Social”. E mais: estar disposto a ser um verdadeiro agente desta Pastoral, que não é de brincadeiras, mas uma pastoral séria, assim como as demais, e que tem muito trabalho a ser feito, nas dioceses, paróquias e comunidades. “A cultura da comunicação requer pessoas que se disponham e assumam a missão de comunicar, sendo capazes de abraçar o ideal a que esta pastoral se propõe. Um grande ideal, uma grande paixão por Jesus Cristo e pelo seu Reino ajudará os agentes a se posicionarem em sua missão” (Pastoral da Comunicação – Diálogo entre fé e cultura – p. 92).
1) Jesus Cristo: o Comunicador Perfeito
Costumamos dizer que o agente da Pascom precisa ter um diferencial: ele é um “comunicador cristão”. Ele não pode ser um “astro”, uma “estrela” dos Meios de Comunicação. Alguém que não busca os holofotes. É como disse, certa vez, João Batista sobre Jesus: “Convém que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3, 30).

A pergunta, então, é: “Que modelo comunicacional deve nortear nossas práticas?”
O modelo de comunicação cristã tem como fonte inspiradora o Mistério Trinitário (comunitário) de Deus - Pai, Filho e Espírito Santo. A comunicação intra-trinitária é tão perfeita que leva é perfeita comunhão entre três pessoas divinas: unidade. Em toda a história humana, Deus toma a iniciativa de se comunicar com o seu povo. Em cada momento e em cada contexto, Deus se comunica através de sinais adequados à compreensão do homem e da mulher, a partir da realidade história em que estavam vivendo.
O desejo de comunicação de Deus junto ao seu povo é tão grande que Ele resolve se comunicar de igual para igual com os homens e mulheres na história. Por isso, assume as características humanas e vem para o meio da realidade vivida pelas pessoas, através do seu filho, Jesus Cristo.
Ele (Jesus) é o modelo de comunicador perfeito. Ele é o próprio Deus que encarna e mostra como deve ser a relação de comunicação entre as pessoas. Por isso, todo agente da Pascom deve seguir o exemplo de Jesus Cristo. Ele nos ensina um modelo de comunicação que serve para todo comunicador cristão, orientando suas práticas, em quaisquer circunstâncias, desde o contato com as pessoas mais simples, até o uso dos meios de comunicação mais sofisticados. Seguir o modelo de comunicação de Jesus requer auto-avaliação constante, conversão e urgente mudança de atitudes.
A Irmã Élide Fogolari e a professora Rosane Borges, no livro Novas Fronteiras da Pastoral da Comunicação, afirmam: “A espiritualidade do comunicador cristão se fundamenta no exemplo de Jesus Cristo, que optou por um processo inculturado e dialógico de comunicação”. Citando o Documento 59, da CNBB, as duas autoras acrescentam: “O comunicador cristão, como um ser em relação com Deus e voltado para seus irmãos, em permanente espírito de acolhida, coloca suas habilidades e conhecimentos técnicos a serviço da Pastoral de Conjunto e das diversas pastorais da Igreja”.
E qual é o modelo de comunicação ensinado por Jesus Cristo?

a) Ia ao encontro das pessoas – quando as pessoas se sentiam acolhidas, valorizadas e escutadas por Jesus, mudavam de vida, mesmo quando seus pecados eram considerados horríveis pela sociedade da época. Certamente eram pessoas que não se sentiam bem porque praticavam coisas erradas, porém, não viam outra saída a não ser permanecer nos erros habituais. Mas, a comunicação de Jesus lhes mostrava perspectivas diferentes, saídas e possibilidades para começar um novo jeito de viver, com qualidade de vida. Assim aconteceu com Zaqueu (cf. Lc 19, 1-10), por exemplo.

b) Acolhia e ouvia quem queria lhe dizer algo – Lembram do cego de Jericó, gritando no meio da multidão, querendo entrar em comunicação com Jesus, para lhe falar do seu desespero e da sua vida? Jesus para, pede que tragam o cego até ele e ali se instaura uma nova fase, na vida daquele homem (Mc 10, 46-52). Já pensou quantas possibilidades se abriram para aquele que vivia como pedinte, dependente de guias, privado de enxergar igual aos outros? Com a vista recuperada, ele recuperou, também, a auto-estima, a cidadania, a chance de conduzir sua própria vida...

c) Valorizava a pessoa / interlocutor – Na hora do sol mais quente, de maior cansaço físico, Jesus encontra a samaritana, no meio de seus afazeres, à beira do poço (cf. Jo 4, 1-30). Ele encontra uma mulher, talvez mais rejeitada e inferiorizada naquela época, do que em nossa cultura. É com essa mulher subjugada ao anonimato, portadora de outra cultura, numa região de tantas dificuldades, que Jesus puxa conversa e estabelece diálogo. Sua comunicação a encanta, desperta interesse e tem sabor de vida. Ela logo percebe o diferencial daquele jeito de comunicar. Sentiu-se valorizada. Jesus age com simplicidade: pede água e se iguala à condição social da samaritana, que também viera buscar água. Ali, ambos expressaram seus pontos de vista, sem que nenhum saísse prejudicado, nem pela condição de gênero, nem pela diferença cultural e nem por outras questões.

d) Falava com atitudes – a credibilidade de Jesus vinha de suas atitudes. O que o povo ouvia de Jesus era condizente com a sua prática. A evangelização passa, necessariamente, pelo testemunho. As atitudes de Jesus comunicavam esperança e certeza numa vida nova, diferente daquele modelo vigente na sociedade da época. Os olhos do povo brilhavam diante da comunicação calorosa e testemunhal de Jesus.

e) Falava coisas de se entender – as palavras de Jesus tinham sabor de vida, de realidade, da cultura de cada região em que ele ia passando e pregando. Atraía a beleza daquelas falações cheias de significado para o povo. Jesus contava histórias, narrava e falava de igual para igual. O mais curioso é que ninguém ficava tímido para falar diante de Jesus. Para conversar com Ele, vinham os cegos, os leprosos, os pobres, os considerados mais pecadores, as criancinhas, e Jesus falava a linguagem de todos eles. É por isso que o povo sentia prazer de escutar Jesus, a ponto de passar um dia inteiro andando de um lugar para outro, com fome, atrás dele. O povo tinha mais fome da Sua comunicação, do que de comida.

f) Era simples – a simplicidade de Jesus era o que mais chamava a atenção de quem entrava em comunicação com Ele. Enquanto alguns se preocupavam com a retórica, com a arte de falar bonito para esnobar, nos lugares públicos, diante de platéias selecionadas, Jesus procurava os lugares onde havia gente esquecida e denegada. Qualquer lugar era lugar de comunicação, para Jesus, e qualquer pessoa merecia a atenção dele. Subia nas barcas, chamava pescadores para seguí-lo, comia na casa de gente “errada”, subia para pregar em cima das serras, caminhava a pé e vivia a vida normal das comunidades. Ele não dava destaque a si mesmo. Anunciava, com entusiasmo, a boa notícia de que um novo reino, um novo modelo de sociedade era possível de ser construído.

g) Planejava e sabia o que queria – Jesus planejava tudo. Tudo dele era pensado e avaliado, antes. Até para enviar os discípulos, mandou que fossem de dois em dois, pois conhecia muito bem, como, na realidade, tudo seria muito difícil. Quando vai entrar em Jerusalém, ele planeja uma entrada que cause impacto e repercussão. Manda, primeiro, buscar um jumentinho, monta e, certamente, já havia muita gente articulada e avisada para recebê-lo. Como Ele queria mostrar que o seu modelo de sociedade era diferente, planejou uma entrada triunfal, mas, com muita humildade (cf. Mt 21, 1-7)

h) Utilizava os meios para chegar a um fim – Jesus usou todos os meios de que dispunha em sua época, com o objetivo de melhorar a qualidade da sua comunicação. O meio de comunicação, para Ele, era apenas auxiliar. A barca e a montanha, por exemplo, foram meios usados para amplificar a sua comunicação, fazendo com que sua voz e seus gestos chegassem mais longe. E não era em todo momento que Jesus usava a barca. Era de acordo com a realidade, com o contexto e a necessidade. O que Jesus queria mesmo era comunicar, estabelecer diálogo com as pessoas, olhando olho no olho, face a face. Deus havia se tornado homem, porque somente a pessoa tem todos os recursos de comunicação para entrar em sintonia com o outro. Depois de ter experimentado todas as tentativas de estabelecer comunicação com o ser humano, Deus radicaliza e resolve se tornar pessoa humana, encarnando-se, para se revelar melhor.

i) Era portador da Boa Notícia - apesar de ser contra as estruturas sociais e políticas de seu tempo, Jesus não andava pregando desgraças. Ao contrário, ele anunciava possibilidades. E era anunciando possibilidades de uma vida nova, de uma sociedade justa e solidária, que Jesus fazia o povo se tocar de que muita coisa precisava mudar. Ele diz que Lázaro não morreu, que o cego vai passar a ver, que Madalena pode ficar de consciência tranqüila, pois seus erros já foram perdoados. A positividade fazia parte da comunicação de Jesus, animando cada pessoa e as comunidades, em busca de uma vida nova.

j) Trabalhava em equipe – A primeira coisa que Jesus fez, mesmo antes de começar a sua vida pública, foi compor uma equipe de trabalho. Antes de começar o trabalho, ele escolheu os doze apóstolos para trabalhar com ele. Com eles, Jesus dividiu responsabilidades, caminhou de um lugar para outro, promoveu momentos de capacitação (ensinando-os), realizava momentos de oração e planejava as coisas. Jesus era um coordenador do seu grupo. Portanto, o modelo de coordenação, na igreja, é o modelo de Jesus: não centraliza, não impõe, dá espaço para os outros crescerem, ajuda o grupo a discernir as coisas e acertar. Coordenar, na visão cristã, é estar a serviço.

l) Avaliava a eficácia de suas ações – se Jesus fosse autoritário não teria dado atenção ao que as pessoas e comunidades pensavam sobre Ele e sobre o seu trabalho. Mas, sua prática revelava uma pedagogia nova e um exercício de autoridade inédito, colocando em xeque o velho modelo. Por isso, avaliava o que fazia. Queria saber como estava repercutindo o seu trabalho, junto às pessoas e comunidades. Avaliava em dois níveis: no âmbito da comunidade e dentro da equipe de trabalho. Primeiro pergunta: “quem dizem que eu sou?”. Depois, faz a avaliação com os seus próprios discípulos: “E vocês?” (cf Mt 16, 13-19). A avaliação é imprescindível em qualquer trabalho pastoral.
m) Cuidava da mística: se retirava para orarJesus mostrava aos seus seguidores a necessidade de cuidar da espiritualidade e da mística, para perseverar na prática da comunicação cristã. É uma prática exigente, comprometida, e isso requer, do comunicador, meditação, oração e recolhimento, para se abastecer com o combustível da fé.
Produzido por

Cacilda Medeiros – da coordenação da Pastoral da Comunicação, na Arquidiocese de Natal/RN

Francisco Morais – colaborador da Pascom – Arquidiocese de Natal