Toda reflexão sobre comunicação inclui o tema da complementaridade ou contradição entre meio e mensagem. Para uns, como os famosa Escola de Frankfurt, o meio já é mensagem, existindo uma simbiose perfeita entre um e outro, que carrega seus valores e defeitos. Para muitos, no entanto, o meio tem valores intrínsecos, independente da mensagem e esta, por sua vez, utiliza-se daquele para ser transmitida. Os pensamentos variam mas um coisa é certa: meio e mensagem se complementam e se distinguem.
Para o comunicador cristão que mergulha em Deus-Comunicação, existe um modelo perfeito que é Jesus Cristo, comunicador do Pai. E ele é base a vida e da ação de quem faz comunicação cristão, justamente, porque, n’Ele não há contradição entre meio e mensagem.
Jesus Cristo é “Palavra que se fez carne” (Jo 1, 14a). É mensagem que se fez meio, é teoria que se fez prática, é idéia que se fez atitude, é discurso que se fez ação de amor no meio do mundo.
Na comunicação de Jesus não há contradição, não há limites entre céu e terra, entre história e eternidade. Tudo n’Ele é simbiose perfeita, é síntese. As rupturas comunicacionais existem tanto quanto mais existe distanciamento da Pessoa de Jesus Cristo. O comunicador que se aproxima dele, afasta-se da contradição.
“E habitou entre nós” (Jô 1, 14b). Jesus não é comunicação distante, fria, acética. É comunicação próxima, encontro com a natureza humana, olho no olho da realidade de cada homem e mulher. É comunicação que não se fez e faz a partir de um a priori , mas se realiza na verdade do outro, tendo como ponto de partida o olhar do outro. É comunicação misericordiosa.
Misericórdia significa sentir com o sentimento alheio, estar próximo da miséria do coração do irmão. Jesus é esta proximidade de Deus. “Haja entre vós o mesmo sentir e pensar que no Cristo Jesus. Ele, existindo de forma divina, não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano. Humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e morte de Cruz!” Para habitar entre nós ele esvaziou-se, empobreceu-se, despojou-se da sua condição divina.
Para comunicar segundo a proposta de Jesus Cristo é preciso descer das riquezas, das verdades, das certezas. É preciso tornar-se pobre para dialogar com os pobres, é preciso tornar-se outro para estabelecer conexão com os outros.
Um projeto evangélico do fazer comunicação não pode prescindir desse descer, desse esvaziar-se. Não pode ser comunicação “para”. Só pode ser comunicação “com”. Construída em mutirão, feita em comunidade, com linguagem popular e metodologia participativa. É comunicação arriscada, pois construtora de verdade a partir do coletivo, do nós, na contramão da comunicação do mundo que tem como ponto de partida uma um emissor soberano da verdade.
Na contemplação do Verbo que se fez carne, empobrecendo-se para estar com as pessoas, só pode emergir uma comunicação inclusiva, harmoniosa e gregária. Comunicação que constrói um todo a partir de cada um. O comunicador cristão aprende do Cristo ou, inevitavelmente, fará a comunicação de si mesmo e não do Evangelho.
* Padre Manoel de Oliveira Filho - Coordenador Arquidiocesano de PASCOM
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