De fato, toda pessoa que quer aprender, vai buscar o conhecimento numa fonte segura e profunda. O desejo faz buscar em profundidade. Todo comunicador aprende desde sempre que, para bem comunicar, precisa dar atenção ao público-alvo, segundo todas as teorias comunicacionais. É preciso ouvir o público, ir ao seu encontro, perceber suas demandas e suas necessidades. Sem esta premissa, não existe comunicação.
No livro do Êxodo, capítulo 3, versículos 7-8a, Deus nos dá uma lição de comunicação. Muito antes que qualquer teoria da comunicação fosse elaborada Javé dizia a Moisés que viu a opressão (...), ouviu o grito(...) e conheceu o sofrimento do seu povo. Como conseqüência, desceu para libertá-lo.
Ver, ouvir, conhecer e descer, ir ao encontro.
Se estas regras são basilares para a comunicação em geral, o comunicador cristão tem a obrigação de vivê-las, pois não aprendeu nos bancos das universidades ou nos livros da biblioteca. Aprendeu do próprio Deus que não ficou circunscrito a sua divindade, numa eternidade feliz e egoísta, mas se fez e faz encontro com o seu povo.
O comunicador cristão, mergulhado na experiência do Deus-Libertador, na contemplação profunda desse mistério de amor que não se cansa de amar, deve ser alguém que enxerga o seu irmão, as realidades todas da vida outro e das comunidades. É pessoa aberta para o mundo, com antenas ligadas em tudo que acontece. Ele vê as dores e angústias da história, percebendo os sinais dos tempos, aprendendo dos fatos e dialogando com eles. É pessoa de ouvidos atentos, capazes de ouvir o grito, pedido de socorro, e o sorriso, partilha da alegria. É comunicador que sabe, não apenas, falar mas, também, e muito, ouvir. Ouvir o dito e o não dito.
Ouvir o não-dito significa dar atenção ao silêncio do outro, perceber a sua ausência como grito de socorro, como chamada de atenção que precisa ser atendida e não cobrada. O ouvir está na dinâmica do acolher, do permitir que o outro seja ele mesmo diante do comunicador. O ouvir está na perspectiva do amor que liberta, porque permite que outro se expresse na grandeza e contradição da sua existência.
O comunicador cristão conhece o outro, porque contempla o Deus-Libertador que conhece o seu povo.
A idéia que temos sobre o conhecer, com bases exclusivas na razão, vem da mentalidade iluminista-racionalista. Para nós, filhos e filhas da modernidade, conhecer diz respeito a “saber sobre alguém ou algo”. A perspectiva bíblica do conhecer extrapola essa dimensão. Conhecer, portanto, significa fazer a experiência. É tão profundo e íntimo que Maria, ao saber que seria a mãe do Salvador, respondeu ao ajo que não conhecia homem algum (cf Lc 1,34). Conhecer tem, assim, até uma conotação de ato sexual. Uma palavra apenas e um significado tão largo que tange várias dimensões da existência.
O comunicador que deseja imitar o Mestre deve conhecer o outro, fazer experiência com ele, vivenciar as sua dores e alegrias, angústias e incertezas, vitórias e derrotas. Não pode ser um sub-burocrata da comunicação, nos gabinetes das suas verdades e certezas. O conhecer ensinado por nosso Deus-Libertador deve levar a um partir, a um “estar com”, fazer morada na vida do outro. Sentir com o outro.
Deve, portanto, descer.
Quem vê, ouvi e conhece inevitavelmente, desce. Não pode, não consegue deixar que outro continue sozinho pelas estradas da vida. Quer fazer-se companheiro, comedor do mesmo pão, cúmplice da mesa história, construtor de comunhão. Ver, ouvir, conhecer e descer. Eis o que nos ensina e para onde nos mobiliza a experiência com Deus-Libertador.
* Padre Manoel Filho - Coordenador Arquidiocesano da Pascom
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