terça-feira, 31 de maio de 2011

Carta de Dom Murilo aos Comunicadores

Prezado Comunicador,

            Há quase cinco décadas, a Igreja, no dia Mundial das Comunicações Sociais, envia aos comunicadores uma mensagem. Procura atingir, assim, os homens e as mulheres que trabalham na imprensa escrita, no rádio, no cinema, na televisão, na internet etc. Cada ano, a mensagem enfoca um tema especial. A deste ano reflete sobre a internet, “fenômeno característico do nosso tempo”, segundo as palavras do Papa Bento XVI. Como você receberá essa mensagem, não a comentarei. Prefiro fazer-lhes duas observações:
1ª) O fenômeno das comunicações sociais obriga a Igreja a repensar sua presença no mundo. Ela existe para evangelizar – isto é, para transmitir a todos, de geração em geração, a mensagem que recebeu de seu Senhor e Mestre. Com essa preocupação e missão, procurou utilizar-se, ao longo dos séculos, dos meios que estavam a seu alcance: a pregação em lugares públicos, o púlpito, o teatro, o livro etc. Hoje, coerentemente, ela necessita usar os poderosos meios de comunicação que a humanidade têm à sua disposição, graças ao dom de inventar que lhe foi dado pelo Criador.
            2ª) O Papa João Paulo II, escreveu, certa vez, que “o primeiro areópago dos tempos modernos é o mundo das comunicações” (cf. RM, 37c). Na cidade de Atenas, areópago era o espaço público onde sábios, oradores e poetas expunham suas idéias e propostas. O apóstolo Paulo julgou que aquele seria um lugar ideal para anunciar Jesus Cristo, morto e ressuscitado. A receptividade que teve, contudo, não foi das melhores – ao contrário, teve diante de si um público desinteressado e irônico. Em nossos tempos, a Igreja chama de areópagos aqueles ambientes em que o Evangelho está ausente ou em que é difícil anunciá-lo. E que ambiente se enquadra tanto nessas características como o mundo das comunicações? Se a Igreja conseguir usá-los, e o fizer adequadamente, terá neles um apoio precioso para difundir o Evangelho e os valores religiosos, para promover o diálogo, a cooperação ecumênica e inter-religiosa, assim como para difundir os princípios sólidos que são indispensáveis para se construir uma sociedade respeitadora da dignidade da pessoa humana e atenta ao bem comum (cf. João Paulo II, RD, 7).
            A você, pois, que atua neste importante campo, um pedido: utilize seus dons e o espaço que você tem à disposição para se unir aos que acreditam que é possível sonhar com um novo mundo – mundo que se concretizará se cada qual semear ao seu redor sementes de verdade.
            Obrigado, desde já, por sua colaboração. Jesus Cristo, comunicador por excelência, o/a abençoe!
Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil