segunda-feira, 28 de março de 2011

Adeus ao padre José Comblin



Neste domingo, dia 27, nos despedimos do padre José Comblin, homem que ajudou a Igreja a pensar e ser diferente. Ele dedicou praticamente toda sua vida ao povo e à Igreja da América Latina, no Brasil, no Chile e no Equador e em centenas de assessorias por todos os países. Ele veio para o Brasil em 1958, junto com o Pe. Michel Schooyans e o Pe. Laga, todos doutores por Lovaina, mas que foram dar aulas no seminário menor, para onde os mandou o Bispo Paulo de Tarso. Em abril de 2010, o padre Comblin esteve em Salvador e bateu um papo com a equipe do Jornal São Salvador. Relembre conosco esse momento!

DIÁLOGO – Padre José Comblin
O padre pastoralista José Comblin concedeu entrevista ao São Salvador sobre as reflexões da Conferência de Aparecida, que, após três anos de sua realização, ainda ecoa na vida da Igreja. O religioso, que foi assessor de Dom Hélder Câmara, é autor de vários livros e participou do primeiro grupo da Teologia da Libertação. Nesta conversa ele falou também sobre a própria vivência de fé na Igreja. Confira!


Jornal São Salvador - Na sua opinião, qual foi o papel histórico da Conferência de Aparecida?
Padre José Comblin - O papel histórico está na afirmação de que a Igreja Latina Americana tem que passar de uma pastoral de conservação para uma Igreja de missão. Isso constitui uma mudança porque pastoral de missão em nível de Igreja já faz 16 séculos que não acontece. É uma grande novidade. É claro que, na consciência da Igreja, faz anos que isso está presente. Mas, em nível de hierarquia, em nível de uma conferência tão numerosa como é a Latino-Americana, é novidade.

JSS - Neste ano dedicado ao sacerdócio, estamos falando muito sobre missão. O senhor acha que a formação recebida pelos padres atende às exigências da missão?
Padre José Comblin - Não conheço todos os seminários, mas acredito que o programa formativo continua o mesmo. Assimilar aquilo que está em Aparecida vai demorar uma ou duas gerações. Porque a transformação pedida é tão grande e forte que isso está começando a ser pensado. Acho difícil que os mesmos professores e formadores que prepararam os sacerdotes para a conservação sejam os mesmos que formarão sacerdotes para a missão. Será o objeto da geração seguinte, daqui a vinte anos. Uma mudança profunda, adaptada ao que está escrito no Documento de Aparecida, acho que isso é humanamente impossível acontecer nesta geração. Pelo menos é possível lançar a ideia, divulgá-la, acostumar as mentalidades a reconhecê-la. Porque modifica de tal modo toda a concepção do ministério sacerdotal que de certo modo tudo deve mudar. Pelo visto, o que provocou a escolha do tema da Conferência de Aparecida é a constatação da fuga de tantos católicos. Isso é um fenômeno muito sensível no Brasil e no mundo. Daí então que uma pastoral de conservação terá como resultado a saída de mais e mais católicos, a cada ano. Trata-se primeiro de frear essa fuga e depois tomar iniciativas, ter uma presença muito mais forte na sociedade contemporânea.

JSS - Como o senhor traduziria esse espírito missionário proposto pela Conferência de Aparecida dentro deste contexto pós-moderno?
Padre José Comblin - O terreno da missão são todos aqueles que não frequentam a paróquia e que se dizem católicos oficialmente. Vamos ver no censo quantos ainda se declaram católicos, mas que, para muitos, isso não inclui o conhecimento verdadeiro do Evangelho, não inclui uma prática religiosa. É o resto de um ambiente social que vem do passado. Esse mundo é o terreno que faz prosperar as igrejas evangélicas. No mundo suburbano são essas igrejas que chegam primeiro. É muito simples, porque o nível de formação intelectual das grandes massas não é muito elevado. De tal modo que não se podem fazer discursos muito complicados, nem vir com uma liturgia complicada. Primeiro, os pastores pertencem a esse mundo popular e eles têm um jeito muito simples de falar. De fato, nesse mundo das grandes periferias, das grandes favelas do Rio e de São Paulo, a presença da Igreja é muito fraca. Isso produz a fuga de muitos que se declaravam católicos. Essas pessoas, ou aderiram a uma comunidade evangélica, ou ficaram desligadas de qualquer instituição. Os que se declaram católicos vão diminuindo. Isso foi, eu acho, o que motivou a reflexão de Aparecida.

JSS- O senhor acha que a Conferência de Aparecida foi uma abertura de caminhos para uma mudança na perspectiva teológica na Igreja? Como o senhor avalia o trabalho teológico na Igreja hoje?
Padre José Comblin - Do trabalho teológico não se falam, quer dizer, é o assunto que evitaram cuidadosamente para não entrarem em dissensões. Ainda está no subconsciente o sentimento de que na América Latina nasceu a Teologia da Libertação, que foi condenada pelo Vaticano. Existem opiniões. Então, numa assembleia episcopal tem de tudo. Tem aqueles que acham que não é uma coisa tão perigosa e têm outros que dizem: ‘sejamos prudentes, não toquemos nas questões teológicas, assunto tão controvertido’. Acho que assim explico por que houve um silêncio sobre essas questões teológicas.

JSS - Durante a sua história, o senhor sempre caminhou com o povo, ouvindo e conhecendo os seus anseios. Estamos num ano eleitoral. Em sua opinião, quais são os desafios sociais, políticos e econômicos para os brasileiros?
Padre José Comblin - Apesar dos progressos do governo Lula, há milhões e milhões de miseráveis que sobrevivem com muita dificuldade. Muitos não comem todos os dias, outros comem uma vez por dia. São muitos doentes que não são atendidos e nem sabem a quem recorrer. Isso é inaceitável num país relativamente rico e civilizado. Não faltam alimentos, não falta dinheiro e nem recursos. Mas, que se mantenha dez por cento da população numa condição de miserabilidade, isso é insuportável, é intolerável. As classes dirigentes não enxergam isso, para eles isso não tem a menor importância. Mas para a Igreja, isso é justamente o que deveria ter a maior importância. É o desafio básico fundamental como conduzir essa situação. E aqueles que são simplesmente pobres, que são também muito mais numerosos, como sobrevivem com salários tão baixos, mesmo comparando com outros que têm o desenvolvimento semelhante. Como não se reconhece o que diz a Doutrina Social da Igreja, que recomenda um salário que cubra as necessidades básicas do trabalhador? Já se calculou que para atender à demanda do trabalhador, é necessário que o salário seja pelo menos de R$ 2.000,00. Sem isso não é possível viver satisfatoriamente. Geralmente, essas pessoas vêm de um passado de miséria, e qualquer aumento traz alegria. Estamos muito longe de uma situação de justiça. As empresas sempre choram e dizem que não podem oferecer melhores salários.

JSS - Como o senhor analisa a presença da Igreja na sua vida?
Padre José Comblin - Eu nasci numa família católica, conheci todas as transformações que houve desde então. Conheci a Igreja tradicional ainda Tridentina, vivi minha infância nessa Igreja. Depois, no decorrer dos estudos, tive a sorte de ter alguns bons professores, que inclusive foram teólogos do Concilio Vaticano II, da Universidade de Lovaina. Isso abriu o horizonte para ver toda a diferença que há entre a tradição eclesiástica e o mundo contemporâneo, a distância e a falta de comunicação que há entre eles. Nesse período se buscava uma aproximação, criar pontes. Sou da geração dos padres operários. O clero nunca tinha ido numa fábrica, não tinha um contato permanente com os operários e com o mundo do trabalho. Também há uma aproximação com o mundo intelectual. É o momento que surgem os teólogos que formaram o Concílio, esses padres tinham sido condenados na juventude. Um dia o padre Congar, eclesiólogo do Concílio, tinha sido condenado e exilado da França e proibido de ensinar, precisou se refugiar na Inglaterra. Então, quando o Cardeal Martine Paris anunciou a sentença, disse: “Não se preocupe demais, padre, daqui a dez anos todos estarão pensando como você”. E, de fato, dez anos depois, era o Concílio Vaticano II, e todas as ideias que tinham sido rejeitadas foram aceitas. O resultado do Concílio não era novidade para mim, já tinha estudado as questões na teologia. Porém, foi a consagração de uma nova geração. Depois houve todo um otimismo logo depois do Concílio, que terminou no ano de 1968. 

sexta-feira, 25 de março de 2011

Posse de Dom Murilo terá transmissão ao vivo do nosso portal

A posse de Dom Murilo como Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil traz inovações no portal da Arquidiocese de Salvador. Com o patrocínio Alltour Turismo, o canal Igreja Vivaserá inaugurado em nossa São Salvador TV com a trasmissão AO VIVO de toda a cerimônia que será realizada dia 25 de março, na Catedral Basílica – Terreiro de Jesus. Alegria, emoção e oração poderão ser vistas de casa pelo público através desta cobertura, que começa a partir das 19h.  Clique aqui para acessar o portal da Arquidiocese.

terça-feira, 1 de março de 2011

BENTO XVI: IGREJA APRENDA LINGUAGENS DA NOVA MÍDIA PARA INSERIR EVANGELHO NA CULTURA DIGITAL

Estudar com diligência as linguagens da moderna cultura digital para ajudar a missão evangelizadora da Igreja e inserir nestas novas modalidades expressivas os conteúdos da fé cristã. Esse foi, substancialmente, o discurso que Bento XVI dirigiu na manhã desta segunda-feira, na Sala Clementina, no Vaticano, aos membros que participam – de hoje até a próxima quinta-feira – da plenária do Pontifício Conselho das Comunicações Sociais.
            Uma linguagem “emotiva”, exposta ao risco constante da banalidade. De contrapartida, uma linguagem rica de símbolos, de milhares de anos a serviço do transcendente. O que a comunicação digital tem em comum com a comunicação da Bíblia? Pouco, aparentemente, se não fosse que para a Igreja não existe linguagem nova que não possa ser compreendida e utilizada para anunciar a mensagem de sempre, a mensagem do Evangelho.
            Bento XVI examinou as implicações dessa questão voltando a um tema muitas vezes abordado nestes últimos anos: o das novas tecnologias e das mudanças que elas induzem no modo de comunicar, a ponto de ter configurado “uma vasta transformação cultural”.
            As redes web – afirmou o Pontífice – são a demonstração de como “oportunidades inéditas” estão delineando um “novo modo de aprender e de pensar”, de “estabelecer relações e construir comunhão”. Mas não basta ter consciência disso – observou. A análise deve ser mais profunda: 
“As novas linguagens que se desenvolvem na comunicação digital determinam, entre outras coisas, uma capacidade mais intuitiva e emotiva que analítica, orientam a uma diferente organização lógica do pensamento e da relação com a realidade, privilegiam, muitas vezes, a imagem e as conexões hipertextuais. Ademais, a tradicional distinção nítida entre linguagem escrita e oral parece abrandar em favor de uma comunicação escrita que assume a forma e a imediação da oralidade.”
            Estar “na rede” – prosseguiu o Papa – requer que a pessoa se encontre envolvida com aquilo que comunica. E, portanto, nesse nível de interconexão as pessoas não se limitam a trocar informações, mas “já estão compartilhando a si mesmas e a sua visão de mundo”. Uma dinâmica que, para o Santo Padre, não está isenta de pontos fracos: 
“Os riscos que se correm, certamente, estão diante dos olhos de todos: a perda da interioridade, a superficialidade no viver as relações, a fuga na emotividade, o prevalecer da opinião mais convincente em relação ao desejo de verdade. E, todavia, estes são a consequência de uma incapacidade de viver plenamente, e de modo autêntico, o sentido das inovações. Eis o motivo pelo qual é urgente a reflexão sobre as linguagens desenvolvidas pelas novas tecnologias.”
            Aí – observou o Pontífice – se insere o trabalho que a Igreja deve fazer e, particularmente, o Pontifício Conselho das Comunicações Sociais. “Aprofundar a cultura digital” e, posteriormente, “ajudar aqueles que têm responsabilidade na Igreja” a “entender, interpretar e falar a “nova linguagem” da mídia em função pastoral”. Bem sabendo que nem mesmo a dimensão espiritual da pessoa é estranha ao mundo da comunicação: 
"A cultura digital apresenta novos desafios à nossa capacidade de falar e de escutar uma linguagem simbólica que fale da transcendência. Jesus mesmo no anúncio do Reino soube utilizar elementos da cultura e do ambiente de seu tempo: o rebanho, os campos, o banquete, as sementes, e assim por diante. Hoje somos chamados a descobrir, também na cultura digital, símbolos e metáforas significativas para as pessoas, que possam ser de ajuda ao falar do Reino de Deus ao homem de hoje."
            Bento XVI reiterou que a "relação sempre mais estreita e ordinária entre o homem e as máquinas", sejam elas computadores ou celulares, pode encontrar na riqueza expressiva da fé e nos "valores espirituais" uma dimensão ainda mais ampla do que a já além-fronteiras que a tecnologia parece assegurar.
            Quatro séculos atrás, o jesuíta Pe. Matteo Ricci, o grande apóstolo da China, soube demonstrar isso, conseguindo acolher "tudo aquilo que existia de positivo" na tradição daquele povo, e "animá-lo e elevá-lo com a sabedoria e a verdade de Cristo". A mesma coisa são chamados a fazerem os cristãos de hoje, que no mundo da mídia podem contribuir para abrir "horizontes de sentido e de valor que a cultura digital sozinha não é capaz de entrever e representar" – concluiu o Santo Padre.

PLENÁRIA DO PONTIFÍCIO CONSELHO DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS
Tem início ontem, em Roma, a sessão plenária do Pontifício Conselho das Comunicações Sociais. Durante os trabalhos serão discutidas, em especial, as contribuições oferecidas pelo Papa na sua Mensagem para o 45º Dia Mundial dedicado aos meios de comunicação social, intitulado “Verdade, anúncio e autenticidade de vida na era digital”.

Fonte: Rádio Vaticano